quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Igreja e Sociedade


  Academia Vaticana debate o problema dos excluídos

Pontifícia Academia de Ciências realizou, dia 07 de dezembro, o seminário “A emergência das pessoas socialmente excluídas”. A novidade é que o Papa Francisco convidou os movimentos sociais para as conferências. Participaram, com passagens pagas pelo Vaticano, entre outros, o advogado argentino Juan Grabois, representante do Movimento dos Catadores de Papel de Buenos Aires, e o economista e ativista social brasileiro João Pedro Stédile. Assim, evidencia-se que o Papa representa o compromisso com os trabalhadores e sinaliza que a Igreja quer ouvir o ponto de vista dos excluídos, não apenas as suas instâncias burocráticas e os cientistas renomados.

website da Academia informa que o seminário refletiu sobre a emergência de um novo sujeito socialmente excluído. Trata-se de “uma massa humana que normalmente se instala nas periferias geográficas das cidades, criando moradias informais e movimentos populares com seus próprios líderes, pessoas que são capazes de procurar e organizar parcialmente o trabalho remunerado, mas de um tipo que normalmente não é reconhecido pelos órgãos governamentais ou associações tradicionais”.

O Papa traz para o debate acadêmico as pessoas que emergem dos escombros das sociedades surgidas nesta fase do capitalismo globalizado.  Sabe-se que o mundo está em crise. Os líderes mundiais não têm imaginação para propor uma agenda esperançosa. Salvo honrosas exceções, estão escravizados pelas engrenagens do sistema. Mais de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo. A ideologia do livre mercado deixa ao relento dois terços da população mundial. Por isso, os líderes populares afirmam que não bastam ações cosméticas, com a finalidade de salvar o sistema injusto. É necessário mudar. Alguns dados apresentados no seminário corroboram este sentimento.

Concretamente, toda pessoa tem que ter direito a trabalho, pois sem trabalho ninguém se realiza. Mas o número de pessoas excluídas do mercado de trabalho já ultrapassa o dos trabalhadores representados por sindicatos. 70% dos trabalhadores indianos e filipinos e 40% dos trabalhadores asiáticos e latino-americanos são empregados no mercado informal. No Brasil, o emprego formal melhorou nos últimos anos, passando de 45,3%, em 2001, para 56% em 2011, um percentual ainda muito aquém do ideal.

Toda pessoa tem que ter direito a moradia. Mas na realidade há mais de 200 mil favelas no mundo hoje. Toda pessoa tem que ter direito a educação de qualidade, que forme para a liberdade, para além do mero treinamento de operários para o sistema.

J. P. Stédile lembrou que sem estas três coisas o discurso cristão, baseado nos valores de solidariedade, de igualde, de fraternidade, se torna vazio, um discurso hipócrita. Talvez seja o caso de certos seguimentos da sociedade brasileira, que se fazem ouvir na velha mídia, exigindo educação de qualidade e que tudo funcione conforme o padrão Fifa, ao mesmo tempo em que encampam verdadeira guerra contra os pobres, e não abrem mão dos juros e outros privilégios.

A iniciativa do Papa Francisco vem em boa hora. A Igreja precisa se abrir. Como comunidade de pessoas livres e criadoras (Cf. Gl 5,13ss), tem a missão de levar esperança para as pessoas. Por isso, precisamos ouvir os povos (Cf. Ex 3,7; Mt 9,36), aprender com eles, e defender os trabalhadores, escutar seus clamores, reconhecer e apoiar suas lutas.

Por Valdecir Luiz Cordeiro
Fonte: Paulus

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