Academia Vaticana debate o problema dos excluídos
Pontifícia Academia de Ciências realizou, dia 07 de dezembro, o seminário “A 
 emergência das pessoas socialmente excluídas”. A novidade é que o Papa 
 Francisco convidou os movimentos sociais para as conferências. Participaram, 
 com passagens pagas pelo Vaticano, entre outros, o advogado argentino Juan 
 Grabois, representante do Movimento dos Catadores de Papel de Buenos Aires, 
 e o economista e ativista social brasileiro João Pedro Stédile. Assim, 
 evidencia-se que o Papa representa o compromisso com os trabalhadores e 
 sinaliza que a Igreja quer ouvir o ponto de vista dos excluídos, não apenas 
 as suas instâncias burocráticas e os cientistas renomados.
O website da 
 Academia informa que o seminário refletiu sobre a emergência de um novo 
 sujeito socialmente excluído. Trata-se de “uma massa humana que normalmente 
 se instala nas periferias geográficas das cidades, criando moradias 
 informais e movimentos populares com seus próprios líderes, pessoas que são 
 capazes de procurar e organizar parcialmente o trabalho remunerado, mas de 
 um tipo que normalmente não é reconhecido pelos órgãos governamentais ou 
 associações tradicionais”.
O Papa traz para o debate acadêmico as pessoas que emergem dos escombros das 
 sociedades surgidas nesta fase do capitalismo globalizado.  Sabe-se que o 
 mundo está em crise. Os líderes mundiais não têm imaginação para propor uma 
 agenda esperançosa. Salvo honrosas exceções, estão escravizados pelas 
 engrenagens do sistema. Mais de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo. A 
 ideologia do livre mercado deixa ao relento dois terços da população 
 mundial. Por isso, os líderes populares afirmam que não bastam ações 
 cosméticas, com a finalidade de salvar o sistema injusto. É necessário 
 mudar. Alguns dados apresentados no seminário corroboram este sentimento.
Concretamente, toda pessoa tem que ter direito a trabalho, pois sem trabalho 
 ninguém se realiza. Mas o número de pessoas excluídas do mercado de trabalho 
 já ultrapassa o dos trabalhadores representados por sindicatos. 70% dos 
 trabalhadores indianos e filipinos e 40% dos trabalhadores asiáticos e 
 latino-americanos são empregados no mercado informal. No Brasil, o emprego 
 formal melhorou nos últimos anos, passando de 45,3%, em 2001, para 56% em 
 2011, um percentual ainda muito aquém do ideal.
Toda pessoa tem que ter direito a moradia. Mas na realidade há mais de 200 
 mil favelas no mundo hoje. Toda pessoa tem que ter direito a educação de 
 qualidade, que forme para a liberdade, para além do mero treinamento de 
 operários para o sistema.
J. P. Stédile lembrou que sem estas três coisas o discurso cristão, baseado 
 nos valores de solidariedade, de igualde, de fraternidade, se torna vazio, 
 um discurso hipócrita. Talvez seja o caso de certos seguimentos da sociedade 
 brasileira, que se fazem ouvir na velha mídia, exigindo educação de 
 qualidade e que tudo funcione conforme o padrão Fifa, ao mesmo tempo em que 
 encampam verdadeira guerra contra os pobres, e não abrem mão dos juros e 
 outros privilégios.
A iniciativa do Papa Francisco vem em boa hora. A Igreja precisa se abrir. 
 Como comunidade de pessoas livres e criadoras (Cf. Gl 5,13ss), tem a missão 
 de levar esperança para as pessoas. Por isso, precisamos ouvir os povos (Cf. 
 Ex 3,7; Mt 9,36), aprender com eles, e defender os trabalhadores, escutar 
 seus clamores, reconhecer e apoiar suas lutas.
Por Valdecir Luiz Cordeiro
Fonte: Paulus
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