domingo, 12 de fevereiro de 2012

Palavra de Vida

«Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». (Mc 1, 15). 

No Evangelho de S. Marcos, o anúncio de Jesus ao mundo, a Sua mensagem de salvação, começa assim: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Com a vinda de Jesus, desponta uma era nova: a era da graça e da salvação. E as Suas primeiras palavras são um convite a aceitar a grande novidade, a própria realidade do Reino de Deus, que Ele põe ao alcance de todos, perto de cada pessoa.

E indica imediatamente o caminho: arrepender-se e acreditar no Evangelho. Isto é, mudar completamente de vida e aceitar, em Jesus, a palavra que Deus dirige, através do Filho, à  humanidade de todos os tempos.

São duas coisas inseparáveis: o arrependimento e a fé. Não existe uma sem a outra. Mas ambas nascem do contacto com a palavra viva, com a presença de Jesus, que ainda hoje repete às multidões:
«Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Quando se aceita e se vive a Palavra de Deus, ela produz uma mudança radical de mentalidade (= conversão).  Infunde nos corações de todas as pessoas (europeias, asiáticas,
australianas, americanas, africanas) os mesmos sentimentos que Cristo teria perante as circunstâncias, os indivíduos e a sociedade.

Mas como é que o Evangelho pode realizar o milagre de um profundo arrependimento ou conversão, de uma fé nova e luminosa? O segredo está no mistério que as palavras de Jesus encerram. Não são simplesmente exortações, sugestões, indicações, orientações, ordens ou mandamentos. Na palavra de Jesus está presente o próprio Jesus que fala, que nos fala. As suas palavras são Ele mesmo, são o próprio Jesus.

E, assim, nós encontramo-Lo na Palavra. E, recebendo a palavra no nosso coração, como Ele quer que seja recebida (isto é, estando dispostos a vivê-la), somos uma coisa só com Ele, que nasce ou cresce em nós. Eis por que cada um de nós pode e deve aceitar o convite tão insistente e exigente de Jesus.
«Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Talvez haja quem considere as palavras do Evangelho demasiado elevadas e difíceis, demasiado distantes da maneira de viver e de pensar comuns, e tenha a tentação de não lhes prestar atenção, de desanimar. Mas isso acontece quando pensamos que devemos
afastar, sozinhos, a montanha da nossa própria incredulidade. Pelo contrário,  bastaria que nos esforçássemos por viver uma única palavra do Evangelho para encontrarmos nela um auxílio inesperado, uma força única, um farol para os nossos passos (cf. Sl 118, 105). Pois a comunhão com aquela Palavra, que é uma presença de Deus, torna-nos livres, purifica, converte, traz conforto, alegria, transmite sabedoria.
«Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Quantas vezes, durante o dia, esta palavra pode ser uma luz para o nosso caminho! Sempre que nos depararmos com a nossa fraqueza ou com a dos outros, sempre que nos parecer impossível ou absurdo seguir Jesus, sempre que as dificuldades tentarem abater-nos, esta
palavra pode ser, para nós, o momento decisivo. É como uma lufada de ar fresco, um estímulo para recomeçarmos.

Bastará uma pequena e rápida “conversão” de rota para sairmos do nosso eu fechado e nos abrirmos a Deus. Iremos experimentar uma nova vida, a verdadeira.

Se, além disso, pudermos partilhar essa experiência com alguma pessoa amiga, que também tenha feito do Evangelho o seu código de vida, veremos desabrochar, ou voltar a florescer, a comunidade cristã à nossa volta.

Pois a palavra de Deus, vivida e comunicada, faz também este milagre: dá origem a uma comunidade visível, que se torna fermento e sal da sociedade, testemunhando Cristo em cada canto da Terra.

  Chiara Lubich                                                        
1) Publicada em Città Nuova, 1997/2, 
                                                                              pp. 32-33; 2) cf. Sl 119, 105.

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