sábado, 24 de setembro de 2011

Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos



«Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado»
[Lc 15, 32]. (1)
Esta frase está no final da parábola do filho pródigo (que conhecemos, de certeza), e quer revelar-nos a grandeza da misericórdia de Deus. A parábola conclui um capítulo do Evangelho de S. Lucas, em que Jesus narra mais duas parábolas, para ilustrar o mesmo assunto: o episódio da ovelha perdida, cujo dono deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura dela (2); e a história da dracma perdida, com a alegria da mulher que, ao encontrá-la, chama as amigas e as vizinhas para que se alegrem com ela (3). 
«Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado».                                                                                                                     
Estas palavras são um convite que Deus dirige a cada um de nós – e a todos os cristãos – para nos regozijarmos com Ele, fazermos uma festa e participarmos na Sua alegria pelo regresso do pecador, que estava perdido e foi encontrado. Na parábola, estas palavras são ditas pelo pai ao filho mais velho – com quem tinha partilhado toda a sua vida –, mas que, após um dia árduo de trabalho, se recusa a entrar em casa onde se festeja o regresso do irmão.
O pai vai ao encontro do filho fiel, como foi ao encontro do filho perdido, e tenta convencê-lo. Mas é evidente o contraste entre os sentimentos do pai e os do filho mais velho: o pai revela um amor sem medidas e uma grande alegria, que desejaria ver partilhada por todos. O filho, pelo contrário, está cheio de desprezo e de ciúmes do irmão, que já nem reconhece como tal. De facto, ao falar dele, diz: «Esse teu filho, que gastou os teus bens» (4).
O amor e a alegria do pai, pelo filho que voltou, acentuam ainda mais o rancor do outro. Rancor que revela um relacionamento frio e – poderíamos dizer – falso para com o próprio pai. Para este filho é mais importante o trabalho e o cumprimento dos deveres, e nem parece amar o pai com um amor de filho. Dá mais a impressão que lhe obedece como a um patrão. 
«Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado». 
Com estas palavras Jesus denuncia um perigo em que também nós podemos cair: vivermos para sermos umas boas pessoas, baseando-nos na busca da própria perfeição, e considerando os irmãos inferiores a nós. O facto é que, se estivermos “apegados” à perfeição, edificamos a nossa pessoa sem Deus. Enchemo-nos de nós mesmos, ficamos cheios de admiração por nós mesmos. Fazemos como o filho que ficou em casa e que enumera ao pai as suas qualidades: «Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua» (5). 
«Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado». 
Com estas palavras Jesus vai contra o tipo de comportamento que assenta a relação com Deus unicamente na observância dos mandamentos. É que uma tal observância já não chega. E a tradição hebraica também está bem ciente disso. Nesta parábola, Jesus põe em evidência o Amor divino, mostrando como Deus, que é Amor, dá o primeiro passo para ir ao encontro de cada pessoa. Não analisa se ela o merece ou não, mas quer que cada um se abra a Ele para poder estabelecer uma autêntica comunhão de vida. Claro que, como podemos perceber, o maior obstáculo a Deus-Amor é precisamente a vida daqueles que acumulam acções e obras, quando Deus desejaria que Lhe dessem os seus corações. 
«Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado». 
Com estas palavras Jesus convida-nos a ter, para com o pecador, o mesmo amor sem medida que o Pai tem por ele. Jesus chama-nos a não reduzir, segundo a nossa medida, o amor que o Pai tem por todas as pessoas, indistintamente. Ao convidar o filho mais velho a partilhar da sua alegria pelo regresso do irmão, o Pai pede-nos, também a nós, uma mudança de mentalidade. Na prática, devemos aceitar como irmãos e irmãs também aqueles homens e mulheres por quem nutriríamos apenas sentimentos de desprezo ou de superioridade. Isso provocará em nós uma verdadeira conversão, porque nos vai purificar da convicção de sermos melhores do que os outros. Assim, evitaremos a intolerância religiosa e receberemos a salvação, que Jesus nos trouxe, como uma dádiva pura do amor de Deus.
Chiara Lubich
1) Palavra de Vida, Março de 2001, publicada em Città Nuova, 2001/4. p. 7; 2) cf. Lc 15, 4-7; 3) cf. Lc 15, 8-10; 4) Lc 15, 30; 5)Lc 15, 29.

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